Sep 09, 2023
Amazônia brasileira corre risco de ser tomada pela máfia, ex
Alexandre Saraiva alerta sobre crime organizado na região antes do aniversário
Alexandre Saraiva alerta sobre crime organizado na região antes do aniversário dos assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira
O rápido avanço de grupos do crime organizado na Amazônia brasileira corre o risco de transformar a região em um vasto interior assolado por conflitos e atormentado por "insurgentes criminosos" fortemente armados, alertou um ex-chefe da polícia federal.
Alexandre Saraiva, que trabalhou na Amazônia de 2011 a 2021, disse temer que a presença crescente de máfias do narcotráfico na região possa gerar uma situação semelhante ao conflito de drogas de décadas no Rio de Janeiro, onde a batalha da polícia contra as drogas gangues e paramilitares ceifou dezenas de milhares de vidas.
“Vivi como o estado perdeu o controle da segurança pública no Rio de Janeiro”, disse Saraiva. “E na Amazônia hoje – se nada for feito em termos de segurança pública – estamos diante de um Rio de Janeiro continental, com os agravantes das fronteiras com grandes produtores de drogas e um cenário de selva extraordinariamente difícil”.
Saraiva alertou sobre as terríveis consequências para a floresta tropical e seus habitantes se gangues criminosas pudessem se transformar em exércitos poderosos como as facções rebeldes na vizinha Colômbia. "Teremos insurgentes criminosos... [cuja] ideologia é o dinheiro", disse ele.
"Teremos áreas de conflagração, de grande conflito entre grupos que lutam por áreas de extração ilegal de ouro e madeira. No meio disso, teremos vítimas indígenas. E enfrentaremos imensas dificuldades logísticas para combater isso", alertou o chefe de polícia, autor de um livro recente chamado Jungle: Loggers, Miners and Corruption in a Lawless Amazon.
O alerta veio antes do primeiro aniversário dos assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do especialista indígena brasileiro Bruno Pereira, cujas mortes expuseram a devastação ambiental generalizada e o crescente alcance de grupos do crime organizado na Amazônia.
Um ano após seus assassinatos, o Guardian juntou-se a 15 outras organizações internacionais de mídia e mais de 50 jornalistas em uma investigação colaborativa sobre o crime organizado e a extração de recursos na Amazônia brasileira, em um esforço coordenado pela Forbidden Stories, organização não governamental com sede em Paris. lucro dedicado a continuar o trabalho de repórteres que são ameaçados, censurados ou mortos.
O que é o projeto Bruno e Dom?
Bruno Pereira, especialista em indígenas brasileiros, e Dom Phillips, jornalista britânico e colaborador de longa data do Guardian, foram mortos no Rio Itaquaí, na Amazônia, em junho passado, quando voltavam de uma viagem de reportagem à remota região do Vale do Javari.
O ataque provocou protestos internacionais e destacou a crescente ameaça à Amazônia representada pelas indústrias extrativas, tanto legais quanto ilegais, como extração de madeira, caça furtiva, mineração e pecuária.
Um ano após suas mortes, o Guardian se juntou a outras 15 organizações internacionais de notícias em uma investigação colaborativa sobre o crime organizado e a extração de recursos na Amazônia brasileira. A iniciativa foi coordenada pela Forbidden Stories, organização sem fins lucrativos com sede em Paris cuja missão é continuar o trabalho de repórteres que são ameaçados, censurados ou mortos.
O objetivo do projeto é homenagear e dar continuidade ao trabalho de Bruno e Dom, enfatizar a importância da Amazônia e de seu povo e sugerir possíveis caminhos para salvar a Amazônia.
Quem foi Bruno Pereira?
Pereira, 41, era ex-funcionário da agência indígena Funai, onde liderou esforços para proteger as tribos isoladas e isoladas que vivem na Amazônia brasileira. Depois de ser afastado de seu cargo logo após a chegada do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro ao poder, Pereira foi trabalhar com a associação indígena Vale do Javari Univaja, ajudando a criar equipes de patrulha indígena para impedir que caçadores ilegais, garimpeiros e madeireiros invadissem suas terras protegidas.
Quem foi Dom Phillips?